sábado, 15 de dezembro de 2012

Crônica de uma tragédia recorrente.




Por Anya Achtenberg
(Tradução de Luiz Eladio Humbert)


A
heartfelt comment about the tragedy in the school in Connecticut./Um sofrido desabafo sobre a tragédia na escola em Connecticut.



Este horror agora ... tantas e tantas crianças. Eu não posso ajudar, mas pensando que, se você vai para baixo para as camadas mais profundas do script deste país, a história se repete, você encontra a violência no âmago. Se você sair, seguir as estradas visíveis e as invisíveis, da teia de aranha, para o momento presente em todo o mundo, você também encontra a violência no âmago, que, em algumas partes significativas e de alguma forma, é financiada por este país.


Como isso não poderia deixar de vazar em um milhão, em infinitas formas, em grandes e pequenos. Triste, também, é que podemos presumir que o atirador é branco, porque a cor de sua pele não foi revelada.


Este horror, esta terrível perda de tantas vidas e, oh, tantos pequeninos no tiroteio na escola em Connecticut, dizem na mídia que é um choque, a psicóloga diz que eles devem voltar ao normal o mais breve possível. Mas o que dizer das crianças, dos pais, cujo "normal" é de terror e de perda, assassinato, tortura, atentados, mutilações, estupros, escravidão sexual? O que eles devem fazer? Um repórter repetiu, como disseram em 9/11, que nunca houve um ataque à "nossa terra".



Eu compreendo este nosso, este nós, para excluí-los. Wounded Knee (*) e todo assalto genocida que o precedeu. O ataque de 1920 feito por brancos contra a comunidade negra de Greenwood, em Tulsa. A destruição de muitas comunidades pobres e de vilas de operários só para fazer beleza para os ricos. Linchamentos. A guerra constante contra mulheres e crianças. O ataque que veteranos do Vietnam trouxeram para casa. O ataque total sobre os direitos, os corpos e as mentes dos membros da comunidade GLBT. Ataques contra imigrantes. Há ataques em nosso solo a cada dia. Uma lista desses ataques seria infinita, de assassinatos, de estupro e de danos consideráveis, tanto os conhecidos, quanto os desconhecidos. Para se dizer que nunca houve um ataque a nossa terra, quantos de "nós" se deve excluir?



Eu lamento por você, sonolenta cidade da Nova Inglaterra, eu lamento por você no meu intestino, porque o insuportável aconteceu. Mas o tecido desta perda nos cobriu inteiro, desde o primeiro golpe, e continua. O sangue flui sem cessar. Será isso terrível de se dizer? Ou será este o meu milionésimo recurso contra a amnésia histórica, contra a nossa cegueira em relação ao outro mundo ao nosso lado, além dessa ou daquela fronteira. Cegueira desses que olham prescindíveis para aqueles que dizem "nós nunca experimentamos ou esperávamos por isso ...". Este mundo sangra e esse sangramento deve ser contido ou cada órgão, cada célula desse mundo conhecerá a doença, a agonia, a perda, o horror e a morte.


Tudo isso é insuportável, essas crianças, essas famílias destruídas, a cidade em estado de choque, toda criança temendo a escola, tudo isso é insuportável. Sinto muito dizer tudo isso, desculpe-me por dizê-lo. Desejo força a todos os enlutados e para todos nós.



(*) Wounded Knee é o nome do hediondo massacre de indígenas americanos pelos descendentes de brancos invasores europeus "civilizados", em 1890, em  Dakota do Sul. (Nota de Érica Weick)


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